quinta-feira, 16 de março de 2017

Romênia: povo esquenta protestos e desestabiliza governo

Uma espetacular demonstração de força do povo romeno contra o governo corrupto do país!


por Taílson Silva

No dia 31 de janeiro de 2017 o governo do Partido Social-Democrata (PSD) da Romênia aprovou uma lei, sem passar pelo Parlamento, que despenalizava alguns crimes de corrupção e abuso de poder, caso tenham provocado um prejuízo não superior a 44.000 euros (cerca de 150.000 reais). A ideia do governo era reformar o Código Penal para abrandar as penas por corrupção, sendo o principal articulardor o líder do PSD, Liviu Dragnea, indiciado pelo Ministério Público romeno num caso de abuso de poder e corrupção com danos estimados em 24.000 euros (82.000 reais), não podendo ocupar o cargo de primeiro-ministro devido à sua condição de indiciado. 

Por trás do discurso de diminuir a população carcerária do país, estava a intenção dos políticos romenos de se livrar de investigações e condenações, que nos últimos anos levou a centenas de detenções de políticos e responsáveis públicos. A ideia da inpunidade dos políticos é muito evidente, pois neste momento mais de 2.000 casos de abuso de poder estão em investigação na Romênia. Segundo um relatório de 2016 do centro de estudos IPP, 89 dos deputados eleitos nas eleições de 2012 – ou seja 15% do total – tinham sido investigados ou mesmo condenados por corrupção. 

O governo e os políticos corruptos da Romênia esqueceram de combinar com o povo, com a juventude e com os trabalhadores do país, que apesar das temperaturas congelantes do inverno europeu, se colocaram no front de batalha e realizaram uma forte e imediata reação, começando os primeiros protestos contra o famigerado decreto naquela mesma noite. No dia seguinte os protestos já eram descritos como os maiores desde a queda do regime estalinista em 1989. Aos gritos de “Ladrões” e “não vão safar-se com isto” os romenos começavam a derrotar nas ruas as intenções do governo. Manifestações que explodiram no dia 05 de Fevereiro, um domingo a noite, quando cerca de 600 mil romenos foram as ruas do país, em Bucareste e em outras 40 cidades da Romênia, forçando o governo a realizar uma reunião extraordinária pra revogar o decreto. 

Mas a população continua mobilizada realizando novas manifestações de milhares de pessoas para manter a pressão sobre o governo, exigindo a renúncia do primeiro-ministro social-democrata Sorin Grindeanu. "Queremos escolas e hospitais, não casos de corrupção. Os ladrões devem estar na prisão e não no governo", disse Elena Comam, estudante de Filologia na Universidade de Bucareste, durante um dos muitos protestos no mês de fevereiro. "O governo atual perdeu toda a sua credibilidade. O Partido Social-democrata venceu as eleições, não discutimos, mas deve encontrar gente honesta para comandar o país", declarou um dos manifestantes, Gheorghe, aviador aposentado. "É importante estar alerta, dizer aos governantes que os vigiamos e que não toleraremos mais corrupção", criticou Madalina, bibliotecária de 45 anos. 

Os gritos de “Demissão” para o governo romeno crescem e colocam em risco a estabilidade do governo corrupto do país, com a preocupação dos Estados Unidos e da União Europeia quanto a participação da Romenia na OTAN e na UE, caso esta crise não cesse. Os acontecimentos na Romênia acendem ainda mais a faísca do atual barril de pólvora da situação política internacional, marcada por questionamentos e enfrentamentos aos governos do mundo, a exemplo do que ocorre com Donald Trump nos Estados Unidos e no mundo. A luta dos romenos foi e segue sendo uma espetacular demonstração de força do povo romeno contra o governo corrupto do país, num evidente sinal de força e esperança aos povos, a juventude e aos trabalhadores do mundo que lutam contra os ataques e a retirada de seus direitos sociais e trabalhistas e contra a corrupção dos governos pelo mundo. Todo apoio a justa e massiva luta dos romenos contra o governo de ladrões do país. #Demissão!
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Tailson Silva é professor de Geografia na rede pública e militante da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST-PSOL).
Imagem: Radio France Internationale - REUTERS/Alex Fraser.
Artigo publicado originalmente no jornal Combate Socialista, publicação mensal da CST-PSOL.

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