terça-feira, 17 de novembro de 2015

A aula dos "secundas"


por Jorge Luiz Souto Maior, publicado originalmente no Viomundo
O Brasil vive um momento bastante complexo, que nos dificulta a compreensão dos fatos, também porque muito do que se sabe pela grande mídia não são os fatos propriamente ditos, mas versões, tantas vezes deturpadas, sentimental ou propositalmente construídas.
O resultado é o imobilismo, porque fica bem difícil saber para onde ir, o que e a quem defender.
Em meio a tudo isso, eis que os estudantes secundaristas, pessoas de 13 a 16 de idade – alguns com 17 ou 18 –, resolvem mostrar que é possível ter boas e certeiras causas pelas quais lutar e saem às ruas em defesa das escolas públicas nas quais estudam.
E não o fazem por mera farra. Agem com convicção, com consciência em torno da importância do ensino público. Defendem as escolas não apenas para si, mas por princípio. Sabem bem do descaso em que, estruturalmente, foi deixada a coisa pública. Sofrem, em inúmeras situações, com a precariedade das acomodações e com a redução de material. Mas não acolhem, de forma radical, ou seja, sem titubear, a ideia do governo do Estado de fechar escolas, de aumentar o número de alunos por sala, de separar o ensino fundamental do ensino médio e, consequentemente, de transferir de forma arbitrária estudantes de uma escola para outra, dificultando o acesso à educação.
Os estudantes, ao saírem em defesa de “suas escolas”, demonstram, para todo o país, que o Brasil não é só corrupção, não é só desmandos administrativos, não é só favoritismo, não é só egoísmo, individualismo e busca de sucesso pessoal por meio de ganhos financeiros e de “status”, como a grande mídia insiste em divulgar. Aliás, para essa gente destruidora da moral da população brasileira todas as pessoas são iguais a ela e, segundo tenta difundir, os jovens são alienados, drogados, descomprometidos, preguiçosos e, consequentemente, ignorantes.
Mas o que se tem em concreto na mobilização dos “secundas”, como se intitulam, são jovens levantando a bandeira da defesa da educação pública de qualidade. São jovens, portanto, que querem estudar, mas que também se preocupam em defender a instituição responsável por isso, mesmo reconhecendo as deficiências estruturais das escolas, sendo que isso, ao mesmo tempo, representa o reconhecimento da qualidade de ensino que os professores e professoras, com todas as dificuldades, ainda conseguem lhes transmitir.
Então, era para que todas as pessoas sérias e que se consideram minimamente preocupadas com a melhora do país estivessem na frente das escolas aplaudindo os estudantes, porque, afinal, estão dando uma aula, que, inclusive, serve à redenção de todos nós. Os estudantes estão dando uma aula de cidadania, de compreensão, de comprometimento, de consciência, de organização e de luta. Uma aula que deixa uma grande e essencial mensagem: o Brasil tem jeito!
No entanto, bem ao contrário, o que se vê é um esforço midiático muito grande para desconsiderar a importância “revolucionária” do movimento, que está refletido em ocupações em 20 (vinte) escolas, mas que, obviamente, não se reduz a isso. De fato, a defesa coletiva e consciente das escolas públicas reflete a situação de que os estudantes compreendem bem a sociedade em que vivem e que não pretendem ficar ali parados, seguindo um destino que lhes foi traçado de serem, no futuro, força de mão-de-obra desqualificada para alimentar um sistema que reforça as desigualdades.
Aliás, é bem isso, ou seja, o risco da perda da mão-de-obra desqualificada, para a realização de serviços que, embora dignos, foram socialmente reduzidos a uma condição subalterna e impregnados de submissão, que incomoda tanto à classe economicamente dominante, que vai às ruas defender um Brasil melhor, mas que olha com desdém a mobilização dos secundaristas.
É também por isso, aliás, que o governo do Estado não apenas tenta implementar uma política para a escola pública que visa punir os professores e as professoras pela sua atuação politicamente consciente, como também trata os estudantes, não como adolescentes, que de fato são, mas como rebeldes que não querem seguir os seus desígnios, chegando a enxergá-los como “operários” que se recusam a trabalhar, sendo por essa razão, ademais, que se interligam as pautas dos estudantes, dos professores e dos trabalhadores.
E a cena extremamente deprimente que se vê é a da escola pública transformada em uma prisão, cercada de policiais, fortemente armados e cegamente preparados, fazendo parecer que os estudantes que ocupam a escola, em ato político, já estão presos e sob a ameaça de males ainda maiores, chegando a situações de gravidade e dramaticidade como se verifica na EE José Lins do Rego, na zona sul, e na EE Salvador Allende, na zona leste de São Paulo, e na EE CEFAM, em Diadema.
E alguém pode se perguntar: que Estado é esse que enfrenta com força bruta estudantes adolescentes de escolas públicas que defendem a sua escola e o seu direito constitucional de estudar?
A resposta é simples: é um Estado que protege interesses do poder econômico e que não quer permitir a ocorrência das transformações sociais possibilitadas pela melhora do ensino que, provoca, inclusive, a diminuição das diferenças de oportunidades. Um Estado que é capaz de transformar o ato político de adolescentes que querem estudar em caso de polícia, sob o falso argumento da defesa do patrimônio público, afinal, estamos falando de um patrimônio que o Estado nunca cuidou e que, portanto, se fosse para punir juridicamente a depredação do patrimônio público das escolas os governantes já deveriam estar presos há muito tempo.
Estado que, ao mesmo tempo, é totalmente incapaz de tratar com o mínimo rigor, no que se refere ao menos ao cumprimento das leis, grandes empresas, que, a cada dia, poluem, exploram, quando não matam, como se viu, agora, na região de Mariana/MG, e como está impregnado em tantos monumentos, da transamazônica aos estádios da Copa, passando por usinas, hidroelétricas e pontes.
É um Estado, portanto, que quer manter a ocupação de doméstica para a filha da doméstica.
Mas a brutalidade não vence a consciência e, portanto, o que os governantes de plantão pretendem é, de fato, uma grande ilusão, pois as mudanças sociais no Brasil, sobretudo a partir de junho de 2013, já estão em curso irreversível, até porque a mudança em termos de compreensão de mundo não é um fenômeno exclusivo do ensino público.
Também no ensino privado, nas consideradas melhores escolas do país, por obra de competentes gestores e valorosos professores e professoras, o economicismo cede espaço ao humanismo, à solidariedade, à naturalização quanto à equiparação das oportunidades e a repartição da riqueza, à tolerância, à condenação aos preconceitos, sobretudo, de raça e de etnia, ao respeito às diversidades, às opções de sexualidade e à igualdade de gênero, fazendo com que a distância de mentalidade entre os jovens de classes sociais diversas seja cada vez menor, o que favorece à superação de um conflito tão estimulado em gerações passadas.
Essa mudança é tão sentida que adeptos do “status quo”, impregnados pelo escravismo, pelo racismo, pelo machismo, pela discriminação e pela intolerância, financiam campanhas contra o que chamam de “doutrinação marxista” nas escolas. Gente que nunca leu as obras de Marx e que nem de longe sabe o que é marxismo. Gente que despreza, inclusive, os Direitos Humanos e que, no fundo, tem medo do conhecimento, porque conhecer a realidade das coisas pode ser doloroso e incômodo.
Outro dia li em uma mensagem de Facebook: “São esses Direitos Humanos que impede (SIC) o desenvolvimento do país”. Mas como já dizia o personagem de Mário Tupinambá, na Escolinha do Professor Raimundo, “a ignorança é que astravanca o progréssio!”
Fato é que a escola, pública e privada, não pode deixar de cumprir o seu papel essencial de transmitir o conhecimento, não se reduzindo, pois, a formar mão-de-obra para o mercado, sendo inevitável, por conseguinte, que assumamos o “risco” de sermos seres humanos dotados de consciência e conhecimento.
E que ninguém se iluda, esse não é um caminho fácil e a reação policial aos jovens estudantes demonstra bem isso, assim como as diversas formas de opressão, criadas nos regimes ditatoriais brasileiros, que ainda estão vigentes, sobressaindo a reprimenda moral e jurídica às greves dos trabalhadores, sendo que se alia a tudo isso, para conter os avanços, a forte campanha que se tem difundido “a favor” da crise econômica, cuja função é a de instaurar o medo e, com isso, inibir as lutas políticas pela consagração e efetivação de direitos sociais.
Ainda assim as mudanças em torno da diminuição das desigualdades sociais, políticas e econômicas estão ocorrendo e continuarão em curso e se os políticos e governantes não sabem disso seria de todo conveniente que aproveitassem o momento em que os estudantes os chamam para o diálogo e se dignassem de ir às escolas não só para conversar com os secundaristas, mas para aprender com eles, como, aliás, de forma exemplar, fez o membro do Ministério Público, João Paulo Faustinoni e Silva, que, após comparecer à ocupação da EE Fernão Dias e compreender o que estava de fato acontecendo no local, pediu a revogação da liminar de reintegração de posse e conseguiu, com o reforço argumentativo da APEOESP, que o juiz da causa, Luis Felipe Ferrari Bedendi, da 5ª Vara de Fazenda Pública, adotasse a grandiosa postura de rever seu posicionamento e proferisse belíssima e importantíssima decisão sobre o caso (Processo n. 1045195-07.2015.8.26.0053).
Eu também fui ao local, onde passei toda a tarde e o início da noite de sexta-feira, dia 13, e posso garantir que se aprende muito com os estudantes, notadamente quanto à sua capacidade de organização e à sua compreensão de mundo.
Ou seja, uma boa forma para acelerar o processo de mudanças, tornando-o menos traumático, seria a de uma espécie de retorno dos políticos e governantes à escola, para terem uma aula de cidadania com os estudantes.
Enfim, quero deixar consignado aqui um manifesto de apoio à defesa das escolas públicas, contra, portanto, o projeto de reestruturação apresentado pelo governo do Estado de São Paulo, transmitindo toda a força aos “secundas” e aos professores e professoras pela sua luta, não porque, de fato, precisem de mim, mas porque todos nós, cidadãs e cidadãos brasileiros, precisamos muito de uma aula como essa!
São Paulo, 15 de novembro de 2015.
*Jorge Luiz Souto Maior é professor da Faculdade de Direito da USP.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

GREVE PETROLEIRA atinge bases dos 17 sindipetros brasileiros

Trancaços e manutenção da greve por tempo indeterminado na Amazônia

Foto: Jean Oliveira/FNP
por Priscila Duque*

A greve petroleira já atinge as bases dos 17 sindipetros brasileiros e na Amazônia vem ganhando cada dia mais adesões, conquistando o comprometimento dos trabalhadores. O movimento já é pauta dos principais veículos de comunicação e causa preocupação em Dilma/Bendine e no mercado financeiro, que vê a greve como uma ameaça aos seus planos nefastos de retirada de direitos e privatização da Petrobrás.

GREVE na AMAZÔNIA
Na última quinta-feira, 05, novamente foram realizados trancaços nas unidades da Transpetro, em Belém e São Luís, e na Petrobrás Regional Norte (UO-AM). Na Transpetro Belém houve adesão de 100% da operação, manutenção e administrativo. Para furar a greve, vergonhosamente, o gerente do TA entrou escondido pela BR Distribuidora. Na UO-AM, após duas horas de trancaço, foi liberada apenas a entrada dos trabalhadores terceirizados, permanecendo a mobilização dos próprios fora do prédio, com ratificação da greve por tempo indeterminado.

Além disso, foi feito trabalho político de convencimento com os petroleiros do prédio de Tecnologia da Informação (TIC), e a partir desta sexta-feira, 06, esses trabalhadores irão aderir à greve nacional da categoria.

Tendência é zerar produção no Urucu
Na Província Petrolífera do Urucu (AM) apenas uma equipe de contingência, formada por engenheiros, supervisores e gerentes, ou seja, pessoas que estão desviadas das suas funções, operando os painéis da sala de controle da planta, na tentativa de normalizar a produção. A medida adotada pela companhia coloca em risco tanto trabalhadores quanto as instalações do campo de Urucu, pois além do improviso para furar a greve, a planta está vulnerável por não haver brigada de emergência. 

Alguns companheiros da equipe de contingência já entraram em contato com a direção do Sindipetro PA/AM/MA/AP, alegando exaustão e solicitando o desembarque. O jurídico do sindicato já está intervindo para garantir o desembarque dos companheiros o mais rápido possível. Além disso, os trabalhadores que não embarcaram mantém firme a decisão de não ceder às pressões e assédios da companhia para garantir a rendição da equipe de contingência. A Petrobrás está bloqueando o contato dos petroleiros de Urucu com o movimento grevista.

Os trabalhadores da Amazônia mantém a decisão de greve por tempo indeterminado até que a companhia reveja sua política de ataque aos direitos da categoria e ao caráter público da Petrobrás.

Esclarecimento sobre notícia veiculada no jornal “A Crítica”
A Direção do Sindipetro PA/AM/MA/AP esclarece aos petroleiros que a notícia veiculada pelo jornal “A Crítica”, do Amazonas, a qual coloca uma declaração onde supostamente o diretor Silvio Cláudio afirma que a companhia colocou sua segurança armada para intimidar os trabalhadores a sair à força da sala de controle, não condiz com a declaração feita pelo diretor. Na verdade, o Inspetor de Segurança do Urucu, Aluísio Neves, se negou a ameaçar os petroleiros em greve e entregou sua arma, por apoiar o movimento. Diante da negação do Inspetor em cumprir a ordem de intimidação, a Petrobrás ameaçou chamar a polícia civil para realizar o trabalho sujo de repressão e criminalização da luta.
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*Priscila Duque é jornalista e assessora do Sindpetro PA/AM/MA/AP.


Quadro nacional do 12º dia da greve nacional petroleira nas bases da FNP

A cada dia que passa, a greve dos petroleiros se fortalece, recebe apoios e solidariedade da sociedade e de diversas categorias profissionais e já é a maior greve desde 1995, quando Lula, PT e a CUT traíram os petroleiros e capitularam ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), derrotando a grandiosa mobilização. 

Foto: FNP
por Jean Oliveira, para a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)

Alagoas/Sergipe
Na base do Sindipetro AL/SE, as unidades de Pilar, Furado e Transpetro Alagoas, em Alagoas continuam paralisadas. A categoria fez carreata para visitar as sondas de Alagoas com o objetivo de reforçar a paralisação nessas áreas, principalmente junto aos terceirizados. O movimento também conta com a paralisação de 90% do efetivo Petrobrás e TRANSPETRO TA e 100% de adesão da Transpetro Dutos.
Em Carmópolis, por mais que haja pressão, por parte da empresa, para que os petroleiros voltem à unidade, a greve continua forte, com adesão de 80% do ADM e 90% dos operadores, envolvendo todas as estações, exceto Coqueiro e Riachuelo. Três estações estão completamente paradas: Entre Rios, Nova Magalhães e Jericó.
Na FAFEN, muitos petroleiros ouviram a convocação do Sindipetro AL/SE e compareceram na porta da fábrica para participar de uma assembleia. Ficou deliberado pela continuidade do movimento grevista. A produção continua sendo mantida de forma irresponsável por uma equipe de turno e o grupo de contingência formado pela empresa desde o dia 31 de outubro.
Na Sede, a mobilização continua forte, com adesão superior a 90% do adm.  No Tecarmo, mesmo com a “Judicialização”, via interdito proibitório, os trabalhadores seguem fortes na luta, com adesão de 80% da operação. Um grupo grande de operadores da Transpetro que estavam confinados em hotel próximo como equipe de contingência, aderiram ao movimento, fortalecendo a luta.
Litoral Paulista
Na RPBC, em Cubatão, mais de 30 petroleiros de base compareceram à refinaria e ajudaram o Sindicato a organizar durante a manhã um forte operativo nas portarias da unidade, fechando inclusive a entrada do CEAD e do SMS. A adesão à greve é de 100% no turno e 90% no ADM.
Na Alemoa, em Santos, trabalhadores e diretores do Sindicato fecharam as principais entradas para o terminal. Com a denúncia de que o grupo de contingência estaria entrando na unidade utilizando uma passagem não autorizada na Codesp, parte dos manifestantes se dirigiram ao local, por onde ninguém passou. A greve no terminal tem adesão de 100% do turno e administrativo. Houve atraso de uma hora na entrada dos terceirizados.
No Litoral Norte, com 100% de adesão operação e de supervisão, 90% da manutenção e 80% do ADM, a greve dos petroleiros segue no Tebar. A produção da unidade já despencou em 40%. Mais de 40 trabalhadores madrugaram na entrada principal do terminal. Outros grupos, com cerca de 10 petroleiros, também ficaram nas outras três portarias da companhia com faixas de protesto, desde às 4h30 da manhã.
Na Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba, mesmo após o ato de repressão orquestrado pela gerência da UTGCA, que acionou a justiça para acabar com o piquete na frente da unidade, o movimento segue forte. A adesão é de 100% da operação, 100% dos técnicos de manutenção sobreaviso e 70% adm (manutenção e SMS). Os trabalhadores em greve continuam se revezando para manter a escala (12 horas) que fariam se estivessem trabalhando mesmo com o clima de tensão imposto pela empresa. Muitos companheiros têm recebido telegramas com aviso de demissão com a justificativa de “abandono de emprego”. No Terminal de Pilões, em Cubatão, segue a greve com adesão de 80% no turno e 90% no ADM.
Pará/Amazonas/Maranhão/Amapá
No Sindipetro PA/AM/MA/AP hoje teve um trancaço no Maranhão Terminal de Itaqui com forte 100% de adesão da operação. Na sede da UO-AM, a adesão é de a greve tá forte a maioria ficou % dos trabalhadores mesmo após o interdito proibitório instaurado pela justiça.
Em Urucu (AM), a gerência está recuperando a produção através do trabalho da contingência. Os petroleiros que deveriam embarcar em Urucu cruzaram os braços. Os trabalhadores que estão sem embarcar estão engrossando a greve na porta do Prédio de Manaus. Na Transpetro Miranar, em Belém, os trabalhadores continuam em greve, que foi aprovada, em assembleia, por ampla maioria.
Rio de Janeiro
Os petroleiros estão desde às 8h da manhã desta segunda (9) em vigília na frente do Edifício Sede da Petrobrás, no Centro do Rio. O protesto irá continuar por todo o dia como forma de pressão sobre a direção da empresa que hoje retomou o diálogo com os sindicatos e federações. O Sindipetro-RJ também realizou um ato no TBG, na Praia do Flamengo, como forma de fortalecer a mobilização da greve nacional da categoria.
No TABG, a greve está forte. Houve um acordo com a gerência proposto pelo Sindipetro-RJ e os trabalhadores assumiram o controle e acompanhamento das atividades. No TBIG, em Angra dos Reis, a greve está forte com adesão de 80% no turno, quase 100% na manutenção e muito apoio no administrativo. O terminal está operando de forma irregular e insegura, com 2 grupos se revezando de 12 horas, utilizando pessoas em desvio de função e sem habilitação para desenvolver as atividades em curso. Em condições normais, o trabalho é desenvolvido por 5 grupos com escala de 8 horas. No Cenpes, vão ser realizadas reuniões setoriais nesta noite para avaliar se haverá corte de rendição de turno.
São José dos Campos

Na Revap, em São José dos Campos, os operadores continuam fazendo corte de rendição e no dia de hoje seguem mobilizados na porta da unidade.
Fonte: http://fnpetroleiros.org.br/?p=9575

Rio Doce e mídia calada: isto não Vale!

Instante em que onda de lama passa pelo Rio Doce/Distrito de Cava Grande/ES. Fonte: em.com.br
por Rogério Godinho

Vou dar a medida da encrenca. 
O que está acontecendo no Rio Doce [Espírito Santo] é pior do que a soma dos piores desastres ambientais dos últimos 30 anos. 
Algodões, Camará, Macacos, os três rompimentos de Cataguases (2003, 2007 2009) até Itabirito no ano passado. 
Por qualquer critério disponível, seja extensão ou volume de rejeitos. 

Repito: o que está acontecendo é pior do que a soma de todos eles.
São 62 bilhões de litros de uma lama impregnada de metais que vai chegar até o litoral do Espírito Santo. Sem contar que o rejeito – pela presença do ferro – está cimentando (mesmo!) diversas partes do rio. 
E estamos falando da mais importante bacia hidrográfica dentro da Região Sudeste. 

Sentiu o problema?
No que se refere a mortes, ainda não sabemos, até porque a Samarco (a Vale!) fechou a região das barragens e não dá informação nenhuma. Isso também é inédito: a empresa responsável e que precisa ser investigada é a única a ter acesso ao local do crime. 
Mas sabemos que são centenas de pessoas desaparecidas. 
Só em Bento Rodrigues, metade dos moradores não conseguiu sair a tempo. Sem contar os milhares de animais mortos. 
Imagine uma longa estrada de destruição.
Visualize. 
Peixes, vacas, cavalos, cachorros, tudo que estava na frente. 
Até ninhos de tartarugas lá na foz do rio estão removendo para tentar salvar antes que a lama chegue.

Mais inédito do que tudo isso é o absoluto desinteresse da mídia. 
No primeiro dia, os jornais deram uma pequena e ridícula chamada na primeira página. No segundo dia, o assunto sumiu. 
Este é o nosso vazamento de óleo do Golfo México, nosso vazamento da Exxon no Alasca, nosso Fukushima.
Mas quem se importa?


Fonte: https://www.facebook.com/rogergodinho/posts/10153223608333339?fref=nf&pnref=story

Empresa da Vale cuida da cena do crime, exclui imprensa e povo

Tsunami de Lama. Foto: Gustavo Ferreira/Jornalistas Livres

Acusada de responsável pela tragédia, empresa da Vale cuida da cena do crime, exclui imprensa e deixa o povo de fora. Tá certo isso?


Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres, com fotos de Gustavo Ferreira, em Mariana (MG)


Arrancados de suas casas pelo tsunami gerado pelo rompimento das barragens Fundão e Santarém, repletas de lama tóxica, os moradores de Bento Rodrigues, arraial rural a 35 km do centro de Mariana, sofrem com outro tsunami: o de dúvidas, de mentiras e de dissimulação.
As barragens sinistradas pertencem à mineradora Samarco, fundada em 1977, controlada pela toda-poderosa Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. Décima maior exportadora do país, a empresa faturou R$ 7,6 bilhões em 2014 e apresentou um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões. Apesar dessa contabilidade vistosa e de dizer em seu site na internet que preza pela vida “acima de quaisquer resultados e bens materiais”, os moradores de Bento Rodrigues reclamam que não havia nem mesmo uma simples sirene instalada e funcionando para alertar o lugarejo da ruptura das barragens. Poderia ter salvo vidas.
Agora, no rescaldo da tragédia, os habitantes de Bento Rodrigues suspeitam que a empresa esteja priorizando o salvamento de sua imagem institucional em detrimento das vidas humanas e dos animais, atropelados pelo avanço medonho da lama.
“Por que é que estão nos impedindo de entrar em Bento Rodrigues? A gente poderia ajudar na localização e no resgate dos desaparecidos e dos animais, porque conhecemos como ninguém a região, sabemos lidar com o mato. O que é que eles estão querendo esconder?”, perguntava um grupo de moradores indignados com o fato de serem mantidos à força longe de seu bairro.
“Por que não permitem que pelo menos alguns de nós entrem, para ver o que está acontecendo?” 
Neste sábado, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), confirmou que 28 pessoas encontram-se “desaparecidas” após o rompimento das barragens. Dessas, 13 são funcionários da Samarco e trabalhadores de prestadoras de serviço. Outros 15 desaparecidos são moradores de Bento Rodrigues, dos quais cinco são crianças.
O prefeito também reconheceu oficialmente uma segunda morte na tragédia. O corpo de um homem, ainda não identificado, foi encontrado no município de Rio Doce, a 100 km de Mariana, à beira de um rio, na lama. A primeira vítima reconhecida oficialmente foi um morador de Bento Rodrigues, que sofreu uma parada cardíaca ao ver o desastre.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Todas as vias de acesso ao subdistrito de Bento Rodrigues encontram-se fechadas. Só entra e sai quem tem carta de autorização. Dezenas de soldados da PM mineira guardam a estrada principal. A estradinha alternativa está intransitável, cenário caótico de argila, rochas, tocos de árvores e restos de vegetação espalhados. Ninguém passa por lá.
“A Samarco é acusada de um crime ambiental seríssimo, que pode ter causado dezenas de mortes, e é ela que ainda tem moral para cuidar da cena do crime? Que loucura é essa?”, reclama uma ativista ligada ao Movimento dos Atingidos por Barragens, quando um caminhão com gerador e luzes da Samarco ultrapassa tranquilamente a barreira policial que veda o ingresso dos moradores. (detalhe: na porta do caminhão, o logotipo da Samarco está tampado por um papel colado). Também camionetes e funcionários a serviço da empresa e devidamente autorizados por ela têm livre acesso ao local.
A Samarco emitiu uma nota oficial aos investidores internacionais apresentando suas supostas razões para proibir o acesso ao terreno sinistrado:
“Por razões de segurança, a Samarco reafirma a importância de não haver deslocamentos de pessoas no local do incidente, exceto das pessoas e equipes envolvidas no atendimento de emergência.”
Apenas a título de memória e, é claro, considerando a diferença de escala, durante as operações de busca e salvamento que se sucederam ao tsunami que varreu a Tailândia, em 2005, o trabalho corajoso e sem tréguas de centenas de voluntários, inclusive fazendo o resgate de corpos humanos e de animais e, foi imprescindível para que a desgraça não fosse ainda pior. Não se alegaram questões de segurança para impedir o trabalho da solidariedade.
“Como é possível que as vítimas sejam mantidas afastadas e o acusado entre e saia à vontade?”, pergunta Ângela, de 57 anos, que nasceu em Bento Rodrigues e agora vive em Catas Altas, vizinho, apontando para lugar nenhum, no vale entupido de lama. “Ali era a casa dos meus pais.” Só ela sabe onde.
Mas o que perturba mesmo os sobreviventes e faz aumentar a tensão na entrada de Bento Rodrigues é a movimentação de helicópteros da polícia, subindo e descendo da “zona quente”, como denominam os bombeiros a área central e mais perigosa da catástrofe.
Sem informações, proibidos de ver o que acontece no arraial, os moradores suspeitam que cadáveres humanos estejam sendo recolhidos do local e levados nas aeronaves para local ignorado. Duas testemunhas em Santa Rita Durão, localidade de Mariana que é passagem obrigatória para quem quer chegar a Bento Rodrigues, dizem ter visto viaturas do Instituto Médico Legal passando diante da delegacia em direção ao bairro sinistrado.
“Foram fazer o quê? A Defesa Civil não diz que um dos mortos oficiais foi encontrado longe e o outro já foi retirado no primeiro dia? Então, por que os carros funerários?”, indaga-se Maria do Rosário, funcionária em um comércio de alimentos.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Bombeiros civis, convocados para ajudar a impedir o acesso dos moradores ao arraial, confirmam a existência de muitos animais ainda vivos no local… Mas já registram a presença pesada da morte, que se anuncia pelo cheiro adocicado e repulsivo da carne em putrefação.
Eles saem extenuados do local, depois de ajudar a deter uma moradora que, embrenhada no mato, tentava romper o cerco policial para achar a avó, desaparecida desde a quinta-feira. Segundo os bombeiros, a moça estava com o rosto e braços lanhados pela vegetação fechada, e com lama quase até o pescoço, tentando chegar à casa da parente. Ela resistiu fortemente aos que tentavam impedi-la de fazer sua busca. “Mas conseguimos retirá-la”, disse Paulo César, bombeiro civil de Nova Lima. A reportagem perguntou a ele: “E a avó dela?” O socorrista respondeu: “Infelizmente, está morta. Não tem como. Ali, é só desolação.”
Mas a gente de Bento Rodrigues acha um crime deixar morrer no desespero do atolamento bois, vacas, cachorros, cavalos e galinhas –até passarinhos em gaiolas — que ainda sobrevivem no atoleiro.
E eles existem.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
O passar monótono do tempo, sob sol forte e calor de 42ºC, sobe e desce de helicópteros, caminhões e camionetes entrando e saindo, nenhuma notícia, só é interrompido quando se ouve o grito: “Imprensa! Vem correndo! Aqui!”
Descendo uma pirambeira, logo se vê um grupo de moradores trazendo machucada, mas viva, uma cadela grandalhona, pelo marrom, vira-lata, deitada em um catre feito com dois paus e um lençol marrom que já foi branco. “Ela estava enfiada metade do corpo na lama”. Os homens que a carregavam conheciam o bicho. Era do açougueiro Agnaldo, que havia passado a manhã tentando entrar em Bento Rodrigues para reaver o animal. Proibiram-lhe.
“Tinha essa cachorra viva, podendo ser resgatada. Já vimos uma égua, que também está viva, enfiada até o pescoço na lama. Pode ter gente sofrendo, ainda viva, que foi arrastada pela lama pra longe”, angustia-se um dos salvadores da cadela.
“Avisamos os bombeiros sobre a égua, mas eles nos disseram que não poderiam salvá-la, porque não dispunham de corda para puxá-la. É preciso correr com a ajuda, agora que o barro começou a secar. No entanto, não se viu uma só vez aquelas gaiolas penduradas nos helicópteros, ajudando nas buscas”.
Foi à tarde que os heróis anônimos conseguiram burlar a segurança e esgueirar-se pela margens do mar de lama, onde encontraram a cadela machucada. Também encontraram um crucifixo de ouro de um metro de altura, que adornava o altar da igreja de São Bento, a igreja de Bento Rodrigues
Entregue pelos homens humildes (Neimar, Leléu, Lilico, Jerry, pedreiros e mecânicos) à polícia, o crucifixo foi levado de camburão para o quartel da polícia militar de Ouro Preto. “Ficará lá à disposição das autoridades eclesiásticas”, disse o tenente Welby. Da igreja branquinha não se vê mais nem sinal. As mangueiras em torno dela estão lá ainda.
O tenente Welby passava instruções ao soldado no posto de Santa Rita Durão: para este domingo, a zona quente seria ampliada e a barreira policial seria implantada bem antes, como forma de impedir os moradores de fazer seus resgates e salvamentos. E de ver o que se quer manter invisível.
Foto: Gustavo Ferreira / Jornalistas Livres
Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/empresa-da-vale-cuida-da-cena-do-crime-exclui-imprensa-e-povo-por-laura-capriglione#100

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Famílias homenageiam vítimas de chacina durante marcha em Belém

pPor Alexandre Yuripor Alexandre Yuri
Onze pessoas foram assassinadas entre os dias 4 e 5 de novembro de 2014. Ato marcou um ano da data e cobrou esclarecimento de assassinatos.
por Alexandre Yuri, para o G1 PA
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Vanda Mendes perdeu o irmão na chacina e protestou contra a violência na capital. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
"Eduardo nunca deu trabalho no colégio, nunca teve problemas com ninguém, não tem nome sujo na polícia. Era morador de periferia, mas tinha tudo para ser feliz", lamentou, emocionada, a dona de casa Maria Auxiliadora Galúcio, durante o ato realizado na noite desta quarta-feira (4) em Belém para marcar um ano da chacina que vitimou 10 pessoas após o assassinato do cabo da Polícia Militar Antônio Marcos da Silva Figueiredo no bairro do Guamá. Entre as vítimas estava Eduardo Felipe Galúcio Chaves, neto criado como filho por Maria Auxiliadora.
A dona de casa conta que, na noite de 4 de novembro de 2014, estava no pátio de sua casa no bairro da Terra Firme e viu a chegada de motoqueiros encapuzados em sua rua, mas não imaginava que eles tirariam a vida de Eduardo. O jovem, com 16 anos na época, foi atingido por cinco tiros pouco antes das 22h e morreu no local, a metros de sua casa.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Larissa Viana lamentou a perda do primo Eduardo.
(Foto: Alexandre Yuri/ G1)
"O meu primo perdeu a vida injustamente. Ele foi deixar a namorada a casa dela, pegaram meu primo no canto de casa como se ele fosse um bandido, um marginal, não deram nem chance de ele se defender. Dói muito lembrar dele porque o Eduardo era uma ótima pessoa. Meu primo faz muita falta para mim. ", conta Larissa Viana, prima da vítima.
Minutos depois da morte de Eduardo, ainda no bairro da Terra Firme, Bruno Barroso Gemaque também foi baleado nas proximidades de sua casa. Segundo Meire Gemaque, tia da vítima, o rapaz de 20 anos estava em uma bicicleta com a namorada e também foi abordado por homens encapuzados em motocicletas. "Era um rapaz muito família, trabalhava no transporte alternativo. Ceifaram a vida do meu sobrinho por nada", disse Meire.
Bruno levou quatro tiros e chegou a ser socorrido por amigos, mas Meire conta que viaturas da Polícia Militar fecharam as vias do bairro e o rapaz não conseguiu chegar no hospital a tempo. A namorada do jovem, que presenciou o baleamento, se isolou após o ocorrido. "Ela não quer falar, se distanciou da gente. Ela foi dar o depoimento na polícia e depois disso ela sumiu. Ficou com medo de represálias", conta Meire.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Jessica Cabral homenageou o irmão Jeferson na
caminhada. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Jeferson Cabral, de 27 anos, também foi homenageado por familiares durante a marcha. Ele foi atingido por três tiros durante a ação de motoqueiros encapuzados no bairro da Terra Firme. "Meu irmão era uma pessoa muito especial para mim. Me ajudava, ajudava a minha mãe, não tinha vícios. Minha mãe sofre muito, porque nada justifica o que aconteceu. Ele não era bandido, era um rapaz trabalhador", lamenta Jessica Cabral, irmã de Jeferson.
Uma das vítimas baleadas na noite do dia 4 chegou a ser socorrida, como Allersonvaldo Carvalho Mendes, atingido por cinco tiros no bairro da Terra Firme. "Allerson", como era chamado pelos amigos, ficou internado no Hospital Metropolitano, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, mas não resistiu e morreu às 18h do dia 5.
"Ele tinha deficiência mental e o que ele gostava era de estar com os amigos e estar brincando, principalmente de pipa. Era uma pessoa alegre, amiga, carinhosa e perdeu a vida desse jeito. Sem fazer mal a ninguém, vieram e tiraram a vida dele. Ele nem sabia porque estava morrendo", conta a irmã de Allerson, Vanda Mendes.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Ana Maria cobrou explicações para a morte do filho
Marcus Murilo. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Ana Maria Ferreira Barbosa participou da caminhada trajando uma camisa em homenagem ao filho Marcus Murilo Ferreira Barbosa, de 20 anos. "Ele era muito prestativo, trabalhava e estudava, ganhava o dinheiro dele para se manter e não mexer nas coisas de ninguém. Ele atravessou a rua para comer um churrasco, os caras chegaram e deram seis tiros nele", diz a mãe da vítima, morto no bairro do Marco por volta de 22h30.
Alex dos Santos Viana, morto no bairro Parque Verde, e Jean Oscar Ferro dos Santos, assassinado no bairro do Jurunas, tiveram seus nomes lembrados em cartazes e palavras de ordem durante a caminhada, mas seus familiares não participaram das homenagens no ato. De acordo com a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), os familiares temiam represálias e alguns deles chegaram a se mudar da cidade.
Para Alberto Pimentel, da coordenação da SDDH, a resposta dada pelas autoridades de segurança pública do Estado ainda é insuficiente. "Ainda está muito aquém da resposta que os familiares precisavam, seja do ponto de vista da assistência que essas famílias precisam, seja do ponto de vista de dar uma resposta efetiva ao problema central que está colocado nesta questão, que é a atuação de grupos de extermínio na região", comenta Alberto.
Uma das participantes mais emocionadas do ato foi Liliane Araújo, irmã de Nadson Araújo, morto na madrugada do dia 5 no bairro do Jurunas. "No dia 3 ele tinha completado 18 anos, ele ia comemorar no sábado, estava tão feliz. Dia 4 mataram ele", lamentou Liliane. "Ele conversava com uma amiga. Pararam as motos e mandaram eles sentarem. Ele nem esperava o tiro, porque morreu de lado", relata a irmã.
Ato 1 ano chacina Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Ato foi encerrado em frente ao Mercado de São
Brás. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Por volta de 2h da madrugada do dia 5, a última vítima da chacina foi registrada no bairro do Tapanã. Marcio Santos Rodrigues, de 22 anos, foi baleado quando chegava em casa após sair com amigos. "Ele era um rapaz muito tranquilo. Nós somos, sim, de família pobre, mas ele não tinha nenhum envolvimento com drogas, com roubo. É por isso que eu não consigo, até hoje, digerir essa história", diz Janete Rodrigues, irmã da vítima.
Janete conta que o caso abalou a família, principalmente os pais, já idosos. "Desde essa noite, infelizmente, nossas vidas não estão sendo mais as mesmas, e nunca mais vão ser. Nós temos que viver hoje com isso, com essa dor, esse vazio". O ato foi encerrado em frente ao Mercado de Brás, com uma mostra da exposição organizada por familiares com fotos e peças de roupas das vítimas.
Investigação
As mortes aconteceram depois do assassinato do cabo da PM Antônio Figueiredo, suspeito de liderar uma milícia no bairro da Terra Firme. Uma CPI criada para investigar os crimes concluiu que integrantes da Segurança Pública participam de grupos de extermínio no Pará. A Promotoria de Justiça Militar indiciou 14 PMs. A corporação abriu investigação contra nove policiais. Os processos também não foram concluídos.
"Não temos nenhuma dúvida que há um grupo de extermínio e eu me arriscaria a dizer que há um grupo de milícia sim no estado do Pará. E eu não só acompanho essa chacina que aconteceu aqui na área metropolitana, mas de vários outros casos que tenho monitorado e acompanhado pela ouvidoria em outros municípios e regionais”, afirmou a ouvidora da Secretaria de Segurança Pública, Eliana Fonseca.
Na manhã desta quarta, a Polícia Civil informou que concluiu apenas três inquéritos do total de 11 que foram abertos para investigar os assassinatos e a possível relação entre as mortes e o homicídio do cabo da PM Antônio Figueiredo.
"Pela complexidade da investigação, 11 homicídios, dos quais sete foram praticados em menos de uma hora, eu digo que na investigação nós estamos bastante avançados. Temos
três inquéritos com definição de autoria, ouvimos mais de 90 pessoas nesses inquéritos, requisitamos 31 perícias e conseguimos prender essas 8 pessoas", afirma Rilmar Firmino, delegado geral da Polícia Civil do Pará.
O caso corre em segredo de Justiça. Segundo o delegado geral, do total de oito presos, apenas um conseguiu a liberdade provisória e foi comprovada a ligação entre a morte do PM e alguns dos assassinatos.
"Nós podemos asseverar que existe ligação entre as três mortes, e dessas, duas mortes foram praticadas por pessoas ligadas ao cabo Figueiredo. Um é um policial militar da ativa que estava afastado para tratamento de saúde, o outro preso é um policial militar da reserva e dois são pessoas civis ligadas ao PM. Não podemos opinar em relação à investigação, temos que individualizar a conduta e apontar a materialidade, não podemos fazer ilações", esclareceu Firmino.
Ato 1 ano chacina Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Vítimas foram homenageadas na Praça do Perário ao final do ato. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
 Fonte: G1 PA.